26 fevereiro 2008

O sonho brasileiro de vivenciar o poder de Superbanks

Depois de cumprir a minha missão em Sydney parti para um sonho antigo de morar na costa dourada australiana, Gold Coast. Resolvi ir de ônibus para admirar a paisagem, são cerca de 12 horas de viagem pelas estradas da Pacific High Way. Antes de sair de Sydney vi um lugar para ficar em Tweed Heads, o bairro que divide os estados de NSW e QLD, apenas uma quadra atrás na praia de Coolangatta (Cooly). E quando vi que estávamos entrando na Gold Coast e ainda já de cara em Cooly já pensei é aqui!! Então percebi que iríamos fazer uma parada e já me manifestei com ansiedade em descer: – O motorista vou para aqui mesmo! Mas para a minha frustração o motorista falou: - Você só pode descer em Surfers Paradadise, há 40 minutos daqui! Passei perto...mas tudo bem sabia que o sonho estava apenas começando fui curtindo o visual da cidade.
Surfers Paradise é o grande centro de Gold mas lá não tem muito de paraíso do surf, são prédios e mais prédios, casas noturnas, a praia é uma bancada que parece a Barra da Tijuca. Nada muito especial, o que me atraiu foi o Rio que corta essa região trazendo uma linda paisagem com as montanhas de fundo. Muitos brasileiros vivem por aqui pois fica perto das escolas de inglês e das oportunidades de trabalho em bares, hotéis e restaurantes.
O pico de Snapper Rocks fica na praia de Rainbow Bay em Coolangatta, o bairro inicial da Gold Coast. Uma região com um ar de interior em que as pessoas sorriem na rua, te cumprimentam, param para os pedestres, com surfshops, escolas de surfe e três surf clubes. A minha 2˚ parada foi direto nesse lugar fascinante com areia branca, um lindo visual e ondas e mais ondas. Um croud que até me assustou na 1˚ impressão mas que traz uma beleza por essa essência de ser uma das maiores raízes no surf.
A emoção de chegar em um lugar pela primeira vez é um êxtase do descobrir, do caminhar pelas mão de Deus, na fé que alimentei durante anos. Pois se a vida é construída nos sonhos, o sentimento de realizar é cercado pela energia do amor. Uma paixão pelas ondas e as raízes do surf. Os dias foram passando e fui me familiarizando com o lugar na espera por boas ondas.
Esta temporada Snapper Rocks deixou a desejar na tão esperada 1˚ etapa do circuito mundial de surf WCT 2008. A sorte bateu poucos dias antes de começar o campeonato, uma grande ondulação de leste trouxe ondas com mais de dois metros, 6-8 pés. E o famosos Superbank mostrou a sua potência quebrando as famosas ondas da costa dourada australiana, Kirra, Green Mountain, Snapper Rocks e um dia épico em Duranbah, um pico ao lado de Snapper.

No 1˚ dia do swell quarta-feira 20 de Fevereiro em Snapper Rock, já as 7 da manhã havia vários fotógrafos e pessoas na praia assistindo a sessão de surf. Um dia com tempo fechado e com um certo vento que fazia com que as ondas não quebrassem tão perfeitas em Snapper, mas já deu para sentir a pressão do point break. Joel Parkinson, Bobby Martinez, Jeremy Flores, Pancho Sullivan já estavam treinando para o início do WCT. O atual campeão mundial Mick Fanning surfou logo cedo em Green Mountain, a 2˚ sessão do Superbank, uma onda mais outside e Duranbah estava “close out!” fechando tudo.

No 2˚ dia também já cheguei bem cedo para coletar imagens para o meu vídeo de surf, dei um check em Snapper mas não estava tão atraente e antes mesmo de montar o tripé algo me levou para Duranbah. Quando subi o morro que divide Snapper e Dbah, olhei as ondas fiquei pasma: “Nossa parece bem melhor”. Estava muito diferente de outros dias. E já com a câmera na mão filmando tudo, vi um tubo de um surfista com os braços abertos, nessa hora me deu uma pilha e já desci para filmar. Encontrei vários surfistas profissionais por lá como: Mick Fanning, Taj Burrow, Cj e Damien Hobgood, Dean Morrison, Bede Durbidge e mais alguns... Tubos mais tubos, a maioria para a direita, irado! Depois eles comentaram que foi o melhor dia dos últimos 6 anos em Duranbah, pois estava liso, grande e com um volume de “power” formando tubos insanos. Na parte da tarde entrou o vento mudando a condição.

Depois no final de tarde fui conferir Kirra que é a ultima sessão da bancada Superbank. Uma onda que eu ainda não tinha visto quebrar de verdade, e quando me deparei com a perfeição do quebra mar: “Gente o que é isso?” Uma direita que forma tubo, sessão de manobra e se der sorte mais tubo. Uma das ondas mais lindas que já vi na minha vida e depois me sentindo realizada pelo longo dia de filmagem parei para apreciar o pôr-do-sol de Kirra.

Já no 3˚ dia sexta –feira começou o trials do quiksilver pro mas em Snapper as ondas não estavam muito boas para filmar, apresentando drop, uma sessão de manobras e a onda já enchia. Então fui para Duranbah conferir o final do swell, ainda com alguns bons tubos mas menores. De tarde a condição começou a mudar para pior, infelizmente. Mas foi uma experiência incrível ver essas raízes do surf quebrar com os melhores do mundo aproveitando o swell com a Alma Surf.

Nos dias seguintes Netuno deu uma trégua no envio das ondas e um dos maiores eventos do circuito mundial de surf, Quiksilver e Roxy Pro, contou com o show exclusivamente realizado pelos surfistas em vez do power das ondas. Adriano de Sousa foi o brasileiro de maior destaque durante a competição, começou avançando direto para a 3˚ fase em cima do campeão mundial CJ Hobgood, depois conquistou o prêmio da expression session, acertou três aéreos sendo que o ultimo foi estratosférico. Na seqüência ganhou a bateria contra o australiano Luke Stedmann top 16 e só foi barrado pelo 8X campeão mundial Kelly Slater. Uma das baterias mais emocionantes, Slater começou forte com notas 8.83 e 9.67 mostrando sede de vitória. Adriano Mineirinho não se abalou e também foi bem aplaudido descolando notas 7.83 e na sua segunda melhor onda fez bonito numa seqüência de manobras conseguiu se igualando a nota do octacampeão 9.67. E o resultado terminou com apenas um ponto de diferença: 18.50 x 17.50 do brasileiro.
No restante o maior fenômeno do surf reinou com performances incríveis nas poucas ondas, bateria por bateria foi avançando até o último confronto do WCT. Kelly Slater conquistou a vitória adiando a sua planejada aposentadoria.
Apenas 20 minutos de Collangatha encontrei mais um paraíso do surf, Burleigh Heads uma parada exótica. O caminho para o surf é magnífico cercado por um parque de reserva ambiental. A visão da onda com as pedras na encosta trazem um ar rupestre, de ilha, mas que se quebra se olharmos para trás com prédios e toda agitação deste lugar que é um dos mais badalados da Gold. O point break é um dos mais consistentes da região com formação de sudeste. De manhã cedo sempre tem umas direitas, 1 metro é o básico, e pode chegar até 3m para os kamikases. Jat Thompson é um dos surfistas do WCT que mora aqui. Tirei tanta foto, para cada lado que se olhava um aspecto diferente. No mais eu continuo morando na Gold Coast e daqui não quero sair tão cedo... Aloha! Próxima parada Bells Beach.