02 julho 2007

Entrevista com Juliana Freitas no Tahiti

A bodyboarder Julina Freitas marcou a presença do surf feminino brasileiro nas morras de Teahupoo num swell que chegou a 12 pés em abril e maio. Simplesmente ela era a única mulher no outside, entre os melhores surfistas do mundo, se arriscando nos tudos insanos de uma das ondas mais perfeitas do mundo.

Como você começou a surfar? Comecei aos 14 anos em Sao Vicente, litoral de SP, por embalo de minhas amigas e acabei gostando! Elas pararam e eu continuei, antes de surfar sempre fui fissurada por esportes radicais, fiz de tudo um pouco. Eu amava patins in-line, competi por um bom tempo, ja quebrei muitos ossos por causa disso...rsrsrsrsr Mas apos conhecer o bodyboard, fui deixando o in-line de lado e quando vi em menos de um ano de surf já estava nas competições! De primeira fui só para ver como era, minhas professoras de bodyboard me inscreveram num campeonato. E depois deste eu nunca mais parei, consegui boas colocações em praticamente todos. E assim começou a minha busca por patrocínios. Virou minha paixão, viajei pelo Brasil nas competições, muito show! Tive bons patrocínios e pessoas abençoadas por Deus que me apoiaram e acreditaram em meu potencial!Competi durante anos só no Brasil, mas meu sonho realmente estava nas ondas em que eu via nos filmes, que tanto me fascinavam...e duas eram asque eu sonhava Pipeline e Teahupoo!!

 Como foi sua primeira viagem internacional? Corri atrás de empresas que me ajudassem a realizar este sonho, mas como no esporte é difícil conseguir patrocinadores fiquei um tempo sonhando e treinando muito, pois sabia q uma hora este sonho seria realizado! Apos mudar para o Guarujá, comecei a treinar muito e levar todos os meus resultados de competições para a Secretaria de esportes da cidade e eles começaram a me apoiar. Apos conseguir resultados significativos, resolveram me apoiar em minha primeira viagem internacional, o HAWAII. Cheguei em Oahu, no dia 7/02/06. Não acreditei quando cheguei na ilha, fui sozinha sem conhecer nada e sem saber onde ficar, apos perrengues de inicio, conheci a famosa onda com que tanto sonhava, PIPELINE, e foi na mesma o 1˚ lugar onde fui surfar, sem ao menos saber onde se entrava para surfar, la fui eu de encontro com o meu sonho realizado...

Como foi surfar Pipeline ?Mts pessoas me perguntam se eu nao senti medo, mas estava tao feliz que isso foi a ultima coisa que passou na minha cabeça. É um tubo muito insano e um pico com crowd, mas muito show! 

E como vc resolveu ir para o Tahiti? A minha viagem que tinha como plano de ser 2 meses se transformou em 8 meses. Fiquei 3 meses no Hawaii, peguei muita onda boa e chuva pois a ilha ficou praticamente inundada por 45 dias. Depois decidi que queria mais, não estava pronta para voltar para o Brasil, e tinha que renovar meu visto, entao decidi ir para o Tahiti.

 O que você achou do Tahiti? Lugar abençoado por Deus, simplesmente o paraíso! Conheci a 2˚onda de meus sonhos, a temida Teahupoo. O Hawaii é maravilhoso, mas o Tahiti tem um algo a mais, apos conhecer um fotografo no avião, ele me apresentou a família Philip que mora em Teahupoo e acabei ficando muito amiga deles. Tudo o que eu imaginava do Hawaii eu na verdade vi no Tahiti. O povo mais alegre, humilde e de bom coração que eu já tinha visto. Tive dias maravilhosos e surfei definitivamente os melhores tubos de minha vida.

Como é dropar essas ondas tão quadradas? E as vacas? Tem que estar bem posicionada e pronta para botar pra baixo. Dropar Teahupoo melhora muito o meu surf e o de qualquer pessoa que esteja disposto a enfrentar essa onda, tomar caldos e superar os próprios medos. Tipo se você leva uma série daquela na bancada de Teahupoo é certo que vai sair com alguns arranhões e os cortes infeccionam. Tem que ficar ligado na hora certa de sair da onda.

Você voltou para o Hawaii mais atirada? Com toda certeza estava mais confiante para pegar ondas grandes e fortes, fiquei mais 4 meses na ilha treinando muito e enfim retornando ao Brasil. Em 2006 competi alguns campeonatos, mas devido a falta de patrocínios decidi trabalhar no meu surfe e juntar um bom material, para assim conquistar o meu verdadeiro sonho: as competições internacionais.

Como foi voltar a Pipeline em 2007? Em 2007 retornei ao Hawaii, competi em um Pipeline dos sonhos. Mas tive uma bateria frustrada, pois quebrei a minha prancha ao meio em um rolo, fui desclassificada, mas mesmo assim não desisti de continuar na batalha e fiquei surfando muito por lá.

 E no Tahiti em 2007 como foi esta experiência? Retornei ao Tahiti para a trip que seria a trip de meus sonhos, fiquei na casa da família Philip, amo aquela familia, lá me sinto em casa pois eles me fazem sentir assim. Fui determinada e o que eu queria era o reconhecimento de meu trabalho e onde estava a mídia então lá estava eu. Cheguei junto com o WCT e encontrei muitos amigos do Brasil, em 2006 havia surfado  muitas ondas boas mas nada como desta vez.Quando cheguei já encontrei Teahupoo realmente assustador, não tive a oportunidade de pegar o pico do swell pois estavam realizando o Trials do campeonato, mas de tarde consegui pegar boas ondas e que ondas! 

Já o WCT rolou em ondas pequenas, tive a oportunidade de conhecer muita gente legal, e de ver os melhores do mundo surfando. Na final do campeonato o mar subiu, e sabíamos que um dia após o término o mar estaria realmente grande!! E lá fui em mais um dia de swell fazer o que eu realmente gosto....surfar. Quando estava a caminho do outside de Teahupoo, muitos me perguntavam,onde vc esta indo? Vc tem certeza de vai surfar lá? Esta perigoso!! Tive todos os tipos de “desencorajamentos” possíveis mas estava pronta, havia treinado minha vida inteira para isso! E ao chegar no meio de todos aqueles profissionais, eles me olhavam como se eu fosse um ET?! Eu era a única mulher na água, e o mar estava realmente assustador, 10 a 12 pés sólidos!!

Como foi pegar a melhor onda da sua vida? O surfista profissional Manoa Drollet me perguntou: “Você não esta comMedo?” E eu respondi todo mundo está!! E me perguntou, “vc ja pegou alguma?” E eu não!! E disse você quer uma grande? E eu respondi qualquer uma!! E ele me deu a onda onde tirei o tubo dos meus sonhos!! Todos os fotógrafos miraram p/ mim e ninguém  acreditava que uma menina toda de rosa estava naquele mar assustador!! Peguei algumas outras ondas, e tive tb bons wipe outs!!Mas consegui o que queria...que vissem que eu não era mais uma menininha seguindo o WCT para ver os profissionais! E sim que estava ali para surfar!!

O que vc acha de não ter mais o feminino em Teahupoo? Acho que o tour feminino de surf deveria voltar, pois sei que assim como eu outras garotas tem condições de surfar aquela onda!!E muitas adoram!!

E depois deste swell vc ainda pegou mais ondas e saiu no jornal local? Como foi isso? No dia em que estava indo embora ainda peguei um mar bom em Teahupoo,pequeno mas bom, surfei com minhas amigas do Guaruja Marcela Kaltner e Camilla Duarte, apos ótimas ondas, sai super cansada do mar e pronta para ir para casa!!E uma garota no meio do caminho me parou e disse: “Ei vc esta no jornal do Tahiti, vocé viu?” E eu não acreditei!! Sai no jornal junto dos locais mais famosos, onde falavam sobre o swell! E a legenda falava assim: “Incrível todas as atenções para a jovem brasileira surfando Teahupoo.”

E como você se sente depois de mais essa surftrip? Hoje estou super feliz pois sei que se continuar vou conseguir! E com certeza chegar ao mundial! O Tahiti é e sempre será um lugar mágico para mim! Tudo de especial!! Bom é isso, se Deus quiser ainda vou voltar p/ aquele paraíso mais e mais vezes!!

 Por Isabelle Nara -publicado no site waves.com.br